O BAÚ DO TESOURO

§ 1.     Pessoas inseguras tendem a participar de grupos sociais para diminuir sua insegurança e aumentar o amor-próprio, voluntariamente ou não. Ideológica, essa abordagem está esgotada de lógica. As principais tribos, hoje, são as religiões, os partidos políticos e os times esportivos. Depois de aderir, é difícil sair devido ao elo emocional que converte o grupo cultural em “família” e se fortalece com o tempo. Infelizmente, o que mais temos nesses clãs são pessoas de pensamento estreito, opinião tendenciosa e conduta intransigente: supõem que sua crença seja “melhor”, inclusive quando a ação do seu cacique ou pajé seja antissocial.

 

§ 2.     O cristão fervoroso que defende a “superioridade” do Cristo, da Bíblia e do cristianismo protegeria com a mesma intensidade a “primazia” de Maomé ou Rama, se tivesse nascido nesse meio ideológico e aprendido desde a infância a sua “hegemonia”. Portanto, onde está a “verdade universal”, os “fatos” ou “provas inquestionáveis”? Nessa conjuntura inexiste certeza universal, mas apenas interpretação pessoal. Por isso é tão significativo ser tolerante, entender e assumir que as religiões tenham ensinamentos diferentes que são oportunos ao seu grupo cultural.

 

§ 3.     Atribuir qualidades humanas a Deus é um meio de legitimá-las. Portanto, quando afirmam que a Divindade seja “ciumenta”, “zelosa” ou “vingativa”, na realidade desejam validar condutas compatíveis com essas facetas. De fato, se os círculos tivessem um Deus, seria circular.

 

§ 4.     A maior parte das pessoas, virtualmente todas, não comeria carne se tivesse que assassinar um animal. O que isso significa? O que deseja significar?

 

§ 5.     As pessoas gostam de obedecer porque gostam de segurança e se sentem seguras tendo um líder, inclusive quando é falso. Isso explica parcialmente o êxito da religião e da política.