O BAÚ DO TESOURO

          Se as aranhas cressem no Senhor, parariam de tecer e começariam a buscar os galardões do Além: morreriam de fome. Mas a Natureza é inteligente, pragmática e simples! A principal função das religiões é, ao menos no sentido prático e convencionalmente, ligar o macaco humano à sua ambição de conquistar o planeta. Estamos errados? É forçoso triturar esse caroço de abacate! Hoje, como ontem, admitir a vida do Grande Arquiteto e seus projetos quer dizer acreditar com precisão no ego que aceita a existência divina. Entenderam essa análise? Conseguiram mastigar esse brócolis? Na verdade, ao crente não importa se há Deus ou não; afinal, seu desejo mais colorido, secreto e tangível é garantir um “Paraíso” eterno, confortável e pessoal. Acaso o fiel age de outra forma senão oxigenar o fogo da sua alienação para convencer a si mesmo da validade na crença? Essa recursão não está sobretudo embasada no egoísmo? A fé individualista estorva a vida saudável como a mariposa no copo de leite. Há inclusive gentinha tão ignorante a ponto de presumir que os outros animais sejam “presentes” do Mais Alto e, portanto, não exista mal em torná-los instrumentos de trabalho ou até comida! Essa diarreia ideológica é viçosa, morna e cruel igual à postura religiosa típica. Acaso não é o boneco da religião, no maior número dos cenários, capaz de roer a própria vida em prol da sua perspectiva teológica? O primata humano é macabro... Na verdade, favorecer o sentimento religioso é muito fácil a quem é insipiente: ora, quanto mais conhecimento heterogêneo, tanto mais estudo, crítica e, o que é normal, tolerância! Não há emoção mais venenosa que a ideológica; um fanático alegre pode ser tão destrutivo quanto o maluco repleto de ódio. A inflamação espiritual causada pelo coração egoísta é dura igual à barata, tenaz e contagiosa; os corações doentes assim não podem abraçar a postura solidária porque suas feridas infeccionadas buscam só o próprio remédio. O fervor religioso costuma ser perigoso, injusto e hipnotizante igual à loucura; falando nisso, o hospício está repleto de gente que consiga, supostamente, falar com Deus; basta reparar. Quem é generoso não precisa ter fé na Providência ou demandar os lenitivos religiosos: é que o altruísta não teme a morte porque seu foco está justamente – na vida.